segunda-feira, 26 de maio de 2014

BAOBÁ


Dez voltas dei ao baobá
Pra um destino de escravidão
De amargura,
De tristeza,
De desgraça
De pesar...
Dez voltas dei ao baobá
Mas tudo veio comigo
A saudade do humilde abrigo
A lembrança da cativa a me embalar
Ah! Eu enlouqueci !!
...me perdi de mim
Me perdi da minha prole
Tanto sofrimento...
Tanto horror
Tanta desesperança.... DESGRAÇA !
Mas, hoje...hoje se me levanta uma nova era
Hoje pousa em minha fronte
A razão, e a consciência
Pensas que não sei  DEMONIO BRANCO ?
Pensa que não conheço suas armas,
tendo na voz uma navalha, que me dilacera por dentro ?
por que TU DIVIDES e tu SEPARAS
escuto que meu corpo é pra servir
e que minha mente é pra perpetuar essa discórdia...

                                         BASTA !!

Todas as pretas são minhas irmãs,
 todas elas, de qualquer tom
eles... eles também são meus !
são todos meus.... irmãos, meus primos
minhas tias, meus tios
todos os pretos velhos são meus avôs
e todos os meus mortos
estão comigo a me abençoar
agora, a lembrança do baobá
não está mais a me atormentar
mas, a me conscientizar
as correntes do medo
foram quebradas
Aurora! Madrugada!
Diga ao povo de lá
Que dez mil voltas se dê ao baobá
Ninguém consegue nos separar
Somos quilombos, favelas,
Aldeias...
Aglutinações de negritude,
Que poreja DIVERSIDADE.

Luz Marques
 
 

 

 

 

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