Numa urna bem profunda
Guardei todo meu lamento
Meu ritual, meu berimbau
Meu animal, meu sofrimento
Me vesti de mar
Me calcei com o rio
Era de serpente o meu oya
Eu era a chuva e o estio
Mas foi um vento de destino frio
Que mexeu por dentro do meu desafio
Aí, eu soltei meus dreads
Aí fui dançar meu reggae
Aí.... a urna se abriu!
Quanto mais saia coisas
Menos ficava vazio
Saiam caboclos, preto velhos, bravuras
E surpreendentes negras criaturas
Luiz Gama, Maria Felipa
Luisa Mahin, Cosme de farias
Elisa Lucinda, Nelson Rufino,
Distintos poetas da urna saltaram
Belíssimos músicos se apresentaram
Toda uma festa de populaça
Todos os sambas nas calçadas
Toda uma festa de toda negrada
Adentrando madrugadas,
Madrugadas seculares
Seculares e descalças,
E descalçando madrugadas
Cada passo foi um caminho
Marcadas a ferro branco
Na solidão do caminho
Eu quase morria de banzo
Mataram de tudo na raiz
Morriam cabelos, etnias, artes
E liberdades e vaidades
E o tempo passou ingrato
E cada erê renascia sedento
Pois se escutavam a cada lamento
A urna, era o Destino de Fel
Como tudo o que brilha carrossel
E na gira do bem
O na gira do mal
Minha pele bem preta
E minha alma imortal
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