quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Herança


Numa urna bem profunda

Guardei todo meu lamento

Meu ritual, meu berimbau

Meu animal, meu sofrimento

Me vesti de mar

Me calcei com o rio

Era de serpente o meu oya

Eu era a chuva e o estio

Mas foi um vento de destino frio

Que mexeu por dentro do meu desafio

Aí, eu soltei meus dreads

Aí fui dançar meu reggae

Aí.... a urna se abriu!

Quanto mais saia coisas

Menos ficava vazio

Saiam caboclos, preto velhos, bravuras

E surpreendentes negras criaturas

Luiz Gama, Maria Felipa

Luisa Mahin, Cosme de farias

Elisa Lucinda, Nelson Rufino,

Distintos poetas da urna saltaram

Belíssimos músicos se apresentaram

Toda uma festa de populaça

Todos os sambas nas calçadas

Toda uma festa de toda negrada

Adentrando madrugadas,

Madrugadas seculares

Seculares e descalças,

E descalçando madrugadas

Cada passo foi um caminho

Marcadas a ferro branco

Na solidão do caminho

Eu quase morria de banzo

Mataram de tudo na raiz

Morriam cabelos, etnias, artes

E liberdades e vaidades

E o tempo passou ingrato

E cada erê renascia sedento

Pois se escutavam a cada lamento

A urna, era o Destino de Fel

Como tudo o que brilha carrossel

E na gira do bem

O na gira do mal

Minha pele bem preta

E minha alma imortal

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